sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sonho/Pesadelo



- Mais uma vez, ela me deixou. - Eu disse para a empregada da mulher que eu estava procurando. A dona da casa. 
- Sinto muito, senhor...

No outro cômodo, ela ouvira minha voz, abriu a porta, deu um sorriso tímido, sem graça.

- Não me esqueci de você, meu amor. Só estou um pouco... doente.

Começou a caminhar vagarosamente, vindo na minha direção. Ela estava pálida, parecia estar "mais" do que doente. Assim que chegou bem perto de mim, ergueu o braço que cobria a sua barriga, provavelmente para me abraçar. Só então que consegui enxergar um corte profundo na altura da cintura dela. O corte sangrava muito, fiquei pasmo, ainda mais porque não havia percebido aquele corte antes. Com muita força, abriu os braços, agarrou-se em meu pescoço e desmaiou nos meus braços. 
A reação que tive, foi automática. Carreguei ela no colo até o carro, para que pudesse socorrê-la o mais breve possível. 
Enquanto eu dirigia em alta velocidade, tirei uma das mãos do volante por um momento para colocar dois dedos em seu pescoço, especificamente no final do maxilar. Sua pulsação era fraca, isso me deixou mais desesperado do que eu já estava.

Minha camisa, já não era mais branca. Era de um tom avermelhado, meio marrom por assim dizer. Eu estava coberto de sangue. Do seu sangue. Mas aquilo era o de menos. Mal me importei, pois o que realmente me importava, era o seu estado de saúde, era saber que talvez, nunca mais fosse ver, você sorrir para mim daquele jeito por mais uma vez.

Ao chegar no hospital, por volta das duas da manhã, carreguei-a pela segunda vez. Havia uma segurança bem na porta do hospital.

- Moça! Preciso de algo para que eu possa deitá-la! É uma emergência! 

Ela nem pensou duas vezes, chamou no rádio outro segurança, que em seguida, já estava com alguns médicos e uma maca para que eu pudesse colocá-la sobre a mesma. Paralisado, não tirei os olhos dela - morta - enquanto os médicos a levavam para a sala de emergência. 
Quando ela sumiu do corredor longo daquele hospital, fui fazer a ficha dela. O engraçado é que eu havia esquecido seu nome. Estava desnorteado devido o desespero. Não vinha o nome, nem a idade, nem onde ela morava. Tudo que eu conseguia pensar, era nela deitada naquela maca, ensanguentada, desfalecida. 
Por fim, apenas lhe dei o endereço da moça, foi a única coisa que, depois de um longo tempo, consegui me lembrar. 

Sentei-me em um banco qualquer da sala de espera, apoiei os cotovelos nas coxas e coloquei as mãos na cabeça. Maldita preocupação! O tempo passava e para a minha frustração, nenhuma notícia se quer dela. 

Já havia amanhecido quando o doutor se aproximou de mim, coloquei-me de pé, esperando pelo pior. Mas para o meu alívio e para a minha surpresa, ele disse para que eu ficasse despreocupado, que me acalmasse, que tudo ocorrera bem, que ela já estava no quarto e que eu podia vê-la. Mas que era aconselhável, pela a própria saúde dela, eu não fizesse com que a mesma se estressasse, nem nada parecido, pois perdera muito sangue e precisava ficar de repouso.

Assim que entrei no quarto, ela sorriu. Sentei ao seu lado, calado, apenas olhava no fundo dos olhos dela e ela no fundo dos meus. O silêncio durou por mais de dez minutos. Olhava para ela com frieza, com seriedade, estava tão sério que isso a incomodou, e fez com que desviasse o olhar para a minha camisa, que estava suja de sangue, com o seu próprio sangue. O olhar daquela moça meiga e doce, se entristeceu. Um olhar de culpa e tristeza ao mesmo tempo. 
Sua expressão facial, fez com que eu pensasse nela, especificamente na tentativa falha de suicídio dela. Fiquei me perguntando várias vezes porque ela havia desejado tanto a morte, justo agora que nos conhecemos e que nos amávamos. Parecia ler meus pensamentos e quebrou o silêncio.  

- Eu fiz e não fiz de propósito. 
- Explique-se. 
- Eu fiz porque queria me livrar do sentimento ruim que estava sentindo, fui egoísta. Mas jamais quis deixá-lo.
- Você quase me deixou, por "em um simples momento", não ter pensado em mim.
- Mas agora eu estou pensando. Não te deixarei nunca mais!
- E se for tarde?
- É tarde?
- Não. Mas e se fosse?
- Eu respeitaria o seu espaço, por mais que doesse em mim.
- Se eu tivesse te perdido, não saberia o que fazer...
- Me desculpa...
- ...
- Quando ouvi sua voz, me arrependi do que havia feito. Tive vontade uma vontade absurda, imensurável de continuar viva. Viva para você.
- Mal sabes o quanto me desesperei.
- Estou aqui. Agora. Me abrace, deixe-me ser seu lar novamente, quem sabe assim, desta vez, seja para sempre.
- Prometa que nunca mais irá me deixar. Que nunca mais irá sumir de mim.
- Eu prometo, meu amor. Eu prometo.

Sonho/Pesadelo,
Take me to L.A.

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