sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O futuro da humanidade.


"Ninguém morre, quando se vive em alguém. Doem seus órgãos. Vivam em alguém."

Marco Polo tentava distraí-lo, mas seu olhar era opaco, sem o brilho das outras vezes. Estava circunspecto. Percebendo que a conversa seria um monólogo, resolveu ir embora. Respeitou seu momento. "Não vale a pena pressionar quem não está disposto ao diálogo", refletiu. Após os primeiros passos, Falcão disse-lhe:
- Não é recomendável que os normais se aproximem de mim. Marco Polo, intrigado, sabia que ele não se abriria se não provocasse sua inteligência. Mas não poderia ser estúpido. Arriscou dizer:
- Não há um normal que não seja anormal e nem um anormal que não seja passível de ser um mestre.
Falcão olhou admirado o amigo, mas desferiu-lhe um golpe inesperado: - Disseram-me que sou perigoso para sua sociedade. O que você espera de mim? Sou um doente mental. É melhor desaparecer.
Marco Polo ficou calado. Sempre fora impulsivo, mas estava aprendendo a difícil arte de pensar antes de reagir. Após um momento de introspecção, disse:
- Os aparentemente saudáveis sempre cometeram mais loucuras contra a humanidade do que os loucos. Você não é perigoso, a não ser para os que têm medo de pensar.
Falcão esfregou a mão direita na testa, levantou-se, foi até uma flor e começou a falar com ela.
- Você é tão linda e eu sou tão rude, mas obrigado por invadir meus olhos e me encantar sem nada exigir!
Marco Polo também se levantou. Foi até uma árvore próxima, abraçou-a, beijou-a e disse algumas palavras em voz audível:
- Você é tão forte! Suportou tantas tormentas. Mas fortaleceu-se e hoje dá sua sombra gratuitamente para mim que sou tão frágil. Obrigado por sua perseverança!

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(...)


Uma pessoa que se suicida não deixou de atuar no mundo social, afirmou Marco Polo. O ato
do suicídio alterou o tempo dos amigos e parentes e, principalmente, despedaçou a emoção e a
memória deles, gerando vácuo existencial, lembranças e pensamentos perturbadores que afetarão
suas histórias e o futuro da sociedade.
- Ninguém desaparece quando morre. Viver com dignidade e morrer com dignidade deveriam
ser tesouros cobiçados ansiosamente. Portanto, o princípio da co-responsabilidade inevitável demonstra
que nunca podemos ser uma ilha na humanidade. Jamais deveria haver a ilha dos norteamericanos,
dos árabes, dos judeus, dos europeus. A humanidade é uma família vivendo numa
complexa teia. Somos uma única espécie. Deveríamos amá-la e cuidar dela mutuamente, caso
contrário não sobreviveremos.

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Caro amigo Falcão,
Certa vez você me disse que tanto você como o Poeta viam a assinatura de Deus nas flores, nas
nuvens e também nas crises dos que possuíam transtornos psíquicos. Na época, pensei
sinceramente que isso era um delírio, que seria impossível encontrar beleza no caos. Pois bem,
você tem razão. Tenho encontrado indescritível riqueza dentro daqueles que sofrem. Eles não
são miseráveis nem passíveis de penúria. Precisam sim ser compreendidos, apoiados e
encorajados. Tenho encontrado um patrimônio psíquico de inestimável valor em meio às
lágrimas e desespero.
Nos portadores de psicose tenho descoberto uma criatividade espantosa. Embora os delírios e
alucinações os perturbem, eles revelam uma criatividade excepcional, uma engenhosidade
intelectual sem precedentes. Nem os melhores roteiristas e diretores de Hollywood conseguiriam
ter tanta imaginação. Pena que a psiquiatria clássica despreze o imenso potencial intelectual
deles.
A inteligência dos portadores de psicose maníaco-depressiva me assombra. São verdadeiros
gênios. Na fase maníaca, a excitação, a rapidez de raciocínio e o volume de pensamentos que
produzem os transportam para as nuvens, num estado de graça, longe da realidade. Nessa fase,
têm uma auto-estima exacerbada. Acham-se imbatíveis, revestidos de um poder sobrenatural.
Na fase depressiva, ao contrário, eles aterrissam sua euforia, seus pensamentos tornam-se
pessimistas, levando-os a se atolar em sentimentos de culpa e viver os patamares mais baixos da
auto-estima. Se aprendessem a pilotar seus pensamentos e a gerenciar o motor da sua
inteligência para não abandonarem os parâmetros da realidade, brilhariam mais do que qualquer "normal". Infelizmente eles são incompreendidos, tanto por eles mesmos como pela
sociedade em que estão inseridos.
Entre as pessoas deprimidas tenho encontrado rara sensibilidade. São tão sensíveis que não
possuem proteção emocional. Quando alguém as ofende, estraga-lhes o dia, a semana, o mês e,
às vezes, a vida. São tão encantadoras que, sem ter consciência, vivem o princípio da coresponsabilidade
inevitável de maneira exagerada. Por isso, perturbam-se com o futuro e
sofrem intensamente por problemas que ainda não aconteceram. Preocupam-se tanto com os
outros que vivem a dor deles! São ótimas para a sociedade, mas péssimas para si mesmas. Falcão,
eu não tenho dúvida de que, se os líderes políticos tivessem uma pequena dose da sensibilidade
que as pessoas deprimidas possuem, as sociedades seriam mais solidárias e menos injustas. Sinto
que minha emoção éfria e seca quando comparada à deles.
Entre os que têm síndrome do pânico, tenho encontrado um desejo invejável de viver. Quando
um ataque de pânico os atinge, o cérebro deles entra em estado de alerta tentando protegê-los de
uma grave situação de risco, um risco virtual. Ficam taquicárdicos, ofegantes e suam muito,
procurando fugir da síncope ou da morte, uma morte imaginária que só existe no teatro das
suas mentes. Se aprendessem a resgatar a liderança do eu em suas crises seriam livres do
cárcere do medo. Quem dera os usuários de drogas, os que vivem perigosamente, os terroristas,
os que promovem guerras tivessem a consciência da finitude da vida e da grandeza da
existência que os portadores da síndrome do pânico possuem. Apesar do sofrimento imposto
pelo pânico, são apaixonados pela vida. Queria amar a vida como eles amam, viver cada
minuto como se fosse um momento eterno.
Falcão, você tem razão em me dizer que a sociedade é estúpida. Realmente ela valoriza a
estética e não o conteúdo. Estou decepcionado até com as pessoas aparentemente cultas. Não
percebem que cada ser humano e em especial os que sofrem transtornos psíquicos são jóias
únicas no anfiteatro da existência.
Meu desafio como psiquiatra não é apenas medicá-los ou fazer sessões de psicoterapia, mas
mostrar a eles que a flor mais exuberante brota no inverno emocional mais rigoroso. Os que
atravessaram seus desertos psíquicos e os superaram tornaram-se mais belos, lúcidos e ricos
do que eram.
Não é isso o que aconteceu com você, meu dileto amigo? Através do drama da sua psicose
você expandiu a sua nobre inteligência e se tornou um mestre, meu mestre. Agora, meus
pacientes me ensinam. Em alguns momentos, aprendo mais com eles do que com meus
professores. Espero que nunca morra minha capacidade de aprender.
Procurei especializar-me em psiquiatria para conhecer a fascinante personalidade humana e
tratar das suas doenças. Entretanto, assim como você questionou o que era a loucura, tenho me
questionado muito sobre o que é a saúde psíquica: Quem é saudável? São saudáveis meus
colegas psiquiatras incapazes de receber seus pacientes com um abraço e um sorriso? São
saudáveis os pais que ouvem os personagens da TV, mas não conhecem os temores e as
frustrações dos seus filhos, nem têm paciência com seus erros? São saudáveis os professores que
se escondem atrás de um giz ou de um computador e não conseguem falar de sua própria história
com seus alunos? São saudáveis os jovens cuja emoção é incapaz de extrair muito do pouco, cujos
prazeres são fugazes? E os que batalham para ganhar dinheiro, mas não sabem lutar pelo que
amam, são eles ricos ou miseráveis?
Tenho também questionado minha própria qualidade de vida. Pensei que eu era saudável, pois falo o que penso, luto pelo que amo e procuro proteger minha emoção, mas descobri que
conheço apenas a sala de visita do meu próprio ser. Falta-me tolerância, afetividade, sabedoria,
tranqüilidade. O dia que deixar de admitir o que me falta estarei mais doente do que meus
pacientes. Obrigado por me ensinar que sou apenas um caminhante. Há muita estrada a
percorrer...
Do seu amigo e admirador, Marco Polo.
Pag. 133




O casal saía com freqüência, e cada encontro era especial, mas um deles foi inesquecível. Certa
noite, Marco Polo manifestou a intenção de dar-lhe um presente marcante. Saiu do perímetro
urbano e levou-a para o campo. Parou o carro e convidou-a a sair.
Pegou em suas mãos e foram andando pela estrada. Enquanto caminhavam, chamou a atenção
de Anna para a harmonia da natureza.
- Todos os dias as flores exalam perfume, a brisa toca as folhas, as nuvens passeiam obscuras,
mas não prestamos atenção. Ouça a serenata de grilos! É um magnífico show incessante.
Vendo a sua maneira simples de encarar a vida, ela perguntou:
- O que é a felicidade para você?
Surpreendendo-a, ele a assustou, dizendo:
- A felicidade não existe, Anna...
Apreensiva, ela subitamente inquiriu:
- Você me amedronta! Qual é a esperança para os que vivem na miséria emocional? O que
posso esperar da vida, se tive tanta riqueza exteriormente e tão pouco dentro de mim?
Marco Polo completou:
- A felicidade não existe pronta, não é uma herança genética, não é privilégio de uma casta ou
camada social. A felicidade é uma eterna construção.
Respirando aliviada, ela indagou:
- Como construí-la?
Como um contador de histórias que passeia pela psicologia, ele fitou seus olhos e discorreu:
- Reis procuraram aprisionar a felicidade com seu poder, mas ela não se deixou prender.
Milionários tentaram comprá-la, mas ela não se deixou vender. Famosos tentaram seduzi-la, mas
ela resistiu ao estrelato. Sorrindo, ela sussurrou aos ouvidos de cada ser humano: "Ei! Procureme
nas decepções e dificuldades e, principalmente, encontre-me nas coisas anônimas da
existência." Mas a maioria não ouviu a sua voz, e os que a ouviram deram pouco crédito.
- Que lindo! Fale mais sobre o que é ser feliz, meu imprevisível poeta.
- Ser feliz é ser capaz de dizer "eu errei", é ter sensibilidade para falar ”eu preciso de você", é
ter ousadia para dizer "eu te amo".
Lembrando de seu pai, ela expressou condoída:
- Muitos pais morrem sem jamais ter coragem de dizer essas palavras aos filhos. Esquecem das
coisas anônimas.
- É verdade. Tropeçamos nas pequenas pedras e não nas grandes montanhas.
Olhando para ele num clima de terno amor, ela falou de alguns temores reais e não frutos de
sua doença. Como amava a poesia, também usou a inspiração.
- Obrigada por você existir. Mas tenho medo de que o nosso amor se evapore como o orvalho
ao calor do sol.
- Em alguns momentos, eu a decepcionarei, em outros você me frustrará, mas, se tivermos
coragem para reconhecer nossos erros, habilidade para sonharmos juntos e capacidade para
chorarmos e recomeçarmos tudo de novo tantas vezes quantas forem necessárias, então nosso
amor será imortal. (...) Em seguida, quis dar algo forte, único, inesquecível, que marcasse aquele momento e fosse
capaz de simbolizar tudo o que ele sentia por ela e revelasse o tipo de homem que ela encontraria.
Um homem incomum tinha de dar um presente incomum.
A lua estava minguante e o céu límpido. Abrindo os braços, ele perguntou:
- Anna, olhe para o alto. Observe o teatro incompreensível do universo. O que você vê?
Curiosa, ela respondeu:
- Vejo lindas estrelas.
- Escolha uma estrela.
Ela sorriu. Havia milhares de estrelas invadindo sua pupila. Anna escolheu uma estrela
brilhante do lado esquerdo do firmamento.
- Escolho aquela - disse, apontando.
- De hoje em diante aquela estrela será sua. Mesmo quando seu céu estiver coberto pelas
tempestades, aquela estrela estará brilhando dentro de você, mostrando os caminhos que deve
seguir e revelando o meu amor.
 Pag. 210

O futuro da Humanidade - Augusto Cury.


Lendo este livro, aprendi: Que eu, tecnicamente já sabia, que a vida é uma só. Corremos riscos, sofremos, amamos, choramos, mas mesmo assim, devemos ter esperança de que um dia irá acontecer algo revolucionário em nossas vidas. O melhor a se fazer, é continuar vivendo e não abandonar as pessoas que mais amamos e que também nos amam. Cada ser humano pensa de um jeito, cada vida, é uma caixinha de surpresa.

Darin M. Roman.

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