quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Seu novo amigo



Em um pub irlandês, uma moça observava um rapaz de estatura mediana, nem magro, nem tão encorpado, pelo qual se encantou. Não era um homem tão atraente, mas chamava atenção pelo seu sorriso cativante e um rosto angelical com um toque de malícia no olhar. 

- Olá, posso te pagar um drink? 
Eu ri da iniciativa dela, mas não disse nada, então ela continuou:
- Posso? Sei que está em horário de serviço, mas é apenas um, só para me acompanhar.
- Que bebida a senhora deseja?
- Senhora? Por favor, me chame de Gabie.
- Desculpe. Gabie, qual bebida você gostaria de saborear?
- Martine. Quero duas doses de Martine com gelo.
Enquanto eu servia as bebidas, ela resolveu perguntar algo que me pegou desprevenido. 
- Desculpa, mas que horas você sai daqui?.
- Geralmente depois que o pub fecha. - Soltei um riso para descontrair o clima que havia ficado. - Saúde. - Ergui o copo e o virei numa golada só.
- Saúde...  - Ela disse em um tom de voz um tanto chateada.

Passou em torno de dez minutos, enquanto eu servia outras pessoas, a mulher ainda estava no balcão, parecia me esperar, fazia cera para beber, o copo estava praticamente intacto. Observei ela de canto e pela pequena análise, percebi que ela queria apenas conversar.
- Sua graça é Gabrielle?
- Ah... Sim. - Se assustou com a minha vinda repentina, deduzi que ela estava perdida em seus próprios pensamentos.
- Gostaria de conversar depois do meu expediente? Você parece triste.
- Está parecendo uma cantada barata pra sair comigo. - Disse rindo.
- Não... Nem posso. - Sorri. - Mas sou um bom ouvinte, foi muito corajosa de vir até mim, que sou o bartender menos pegável daqui. 
- Mas não o menos charmoso e educado.
- Obrigado. Sairei daqui vinte minutos, quer esperar aqui?
- Não, prefiro esperar lá fora. Estarei ao lado do meu carro, um Corsa prata de vidros escuros.
- Tudo bem. Nos veremos às 23hs.

23h10.

Bati no vidro do carro, a porta foi destravada, sem hesitar, entrei no carro e sentei no banco do passageiro. Olhei nos olhos dela e me apresentei formalmente.
- Olá, ainda não me apresentei. - Estendi a mão direita para ela. - Johnathan, mas pode me chamar de John.
- Prazer, John. Gabrielle. - Ela apertou minha mão com delicadeza. - Mas pode me chamar de Gabie. Você gostaria de ir para algum lugar?
- Para ser sincero, gostaria sim, de estar em casa e dormindo. - Dei uma risada e voltei a falar. - Mas como parece que você precisa da minha ajuda, gostaria de ir para algum lugar calmo para conversar. 
- Tem um parque aqui perto, podemos ir lá. Dá até para ir caminhando.
- Verdade. Eu sei o caminho. - Eu disse enquanto saia do carro. Ela fez o mesmo. - Queria lhe fazer uma pergunta.
- Pode fazer... 
Caminhei na direção do parque e ela me acompanhou um pouco distante.
- Você não tem medo de ir para um local vazio com um desconhecido? 
- Não, até porque eu conheço você, John.
- Conhece..? - Perguntei desconfiado.
- Claro, você trabalha em um pub no qual desde quando o frequento, vejo você por trás daquele balcão.
- Ah! Já estava começando a achar que você me vigiava... - Falei rindo. - Mas agora é sério, você não tem medo?
- Hoje não... Hoje não. Sinceramente, eu queria que algo de ruim acontecesse comigo. Mas vejo que peguei o barman errado pra isso. - Ela riu.
- Verdade.. - Me sentei na grama e não olhei para a moça. - Então me diga por que se sente assim?
Ela hesitou um pouco, mas tomou coragem e resolveu desabafar:
- O meu namorado... ex-namorado, terminou comigo faz alguns dias. - Ela deu uma pausa, estava contendo as lágrimas. - Eu... não sei o que eu fiz. Ele simplesmente terminou comigo depois de todos esses anos fazendo juras de amor e todas aquelas coisas, eu amo tanto ele e agora isso, ele acabou comigo, acabou com a minha vida! - Ela desabou em prantos.
- Se acalma, Gabrielle... Todos nós já sofremos por amor, ninguém está livre do sofrimento, ele é como uma doença, pois ela não escolhe a classe social, todos nós estamos vulneráveis, sujeitos à qualquer tipo de doença... - Respirei fundo. - Olhe para mim, transbordo felicidade, mas é apenas uma máscara, pois por dentro, estou completamente despedaçado. Não estou dizendo que você não está sofrendo, nem que você não queira morrer, porque eu cobicei a morte quando perdi alguém que eu amava, mas isso é passageiro. Vai doer muito e vai demorar bastante para você superar isso, mas infelizmente o tempo é o único remédio. Não é tentando substituir esse amor que irá parar de doer. A única coisa que podemos fazer, é nos conformar com a perda, seguir nossa vida que o tempo cuidará do resto.
- Você deve ter sofrido tanto..
- Você também está sofrendo "tanto". Não menospreze a dor que está sentindo agora, porque ela é tão grande quanto as dores que senti pelos meus velhos amores. Eu amei, sofri, chorei e ainda estou vivo. - Coloquei a mão em seu ombro. - Não fique assim. Um dia o seu coração vai parar de doer, mas enquanto ainda dói, você tem de ser forte, porque você irá sobreviver. Irá superar.
- Você parece ter um coração tão bom... Podia fazer qualquer coisa comigo agora, mas não, apenas está me consolando.
- Não gosto de me aproveitar da situação. Jamais faria isso. Bom, às vezes penso que não, que não tenho esse coração bom que muitos dizem que tenho. É que... eu não gosto de ver as pessoas tristes. Me incomoda a tristeza alheia. De triste já basta a minha vida. - Fiz uma pausa, relembrando das dores de amor pelas quais já passei. - Enfim, vamos embora, está tarde e tanto você quanto eu, temos de ir pra casa. Se caso um dia você se sentir fraca à ponto de querer fazer merda ou de tentar tirar sua vida, me procure, está bem?
- Tudo bem, farei isso. Obrigado por tudo.
- Não me agradeça. Apenas me considere seu novo amigo.

Caminhamos até seu carro, ela chegou a perguntar se eu queria uma carona, mas eu preferi ir pra casa de a pé, assim eu poderia pensar na vida e no quão bom era amenizar a dor de alguém que - como eu - sofre por amor.

Take me to L.A.